sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Rodrigo e seu Natal mais marcante

Rodrigo — eis o seu nome —, um jovem senhor de pouco mais de quarenta anos. Honesto, trabalhador, sempre lutou para dar o sustento à sua maior preciosidade: a esposa e seus três filhos - Normélia, Mário e Amanda.
Lembro que ficou desempregado no início do mês de agosto daquele ano — ano em que todos os cristãos comemoravam o segundo milênio do nascimento de Cristo. E, por mais que se esforçasse diariamente, por mais que percorresse sua cidade e circunvizinhanças, não conseguia colocação. Ele orava, pedia a Deus que iluminasse seu caminho, todos os dias. Mas, dia após dia, sentia que havia sido esquecido pelo próprio Deus que ele procurava.
Todavia, continuava a rezar, impossível Deus ter-se esquecido de um filho seu. Impossível suas preces não chegarem a seus ouvidos. Ele não precisava que Deus o olhasse para que o emprego aparecesse. Ele não precisava que Deus dissesse “a” nem “b”, se Ele apenas ouvisse, as portas se abririam.
Entrou dezembro. Logo após um dia inteiro de caminhada, seus olhos vislumbraram na sala de estar a árvore de Natal, que sua esposa e filhos haviam montado. Foi como um antídoto de perseverança. Sentiu um aperto invadir-lhe o peito: sob esta, o espaço para os presentes, espaço para a tradição.
No dia seguinte, recomeçou sua luta, saiu de empresa em empresa procurando emprego colocação. Alguns dispensavam-no antes que dissesse algo. Outros, apenas mostravam uma placa: sem vagas.
Cansado, passando das doze horas. Viu-se em um banco de uma praça. O sol queimando sua pele. Os pés doloridos. O peito desfeito em dor. Sem poder mais se conter: chorou. E seu choro, seu lamento era um só: um homem como aquele que procurava Deus, em Deus seu maior refúgio, recebia apenas do próprio Pai o silêncio. E o silêncio era tão grande que começou a brotar no peito de Rodrigo o desespero.
Cabisbaixo não percebeu que alguém sentou ao seu lado. Era um senhor mal-vestido, barba branca:
- É tão fácil pedir, meu rapaz. Digo, pedimos a Deus: dai paz na minha família, dai paciência para suportar a teimosia da minha cônjuge. Mas, será que é tão simples assim, será que não queremos apenas um paliativo, um Deus-resolve-problemas? Será que é este tipo de Deus que os homens querem? Não um Pai que ensina a seus filhos a ter coragem diante das dificuldades, a ter esperança, a procurarem enfrentar e resolver seus problemas. E quando o homem não recebe este “milagre”, ele apenas critica: o Senhor esqueceu de mim, o Senhor me abandonou.
Rodrigo apenas o fitou. Ora, o que aquele homem tinha a ver com sua vida? Ora, ele não sabia das suas dificuldades, não sabia dos seus problemas. E quem era ele para medir a sua fé? Era 15 de dezembro. Como encontrar um emprego tão próximo da data natalícia?
- Vá, caminhe duzentos metros. Ali há uma igreja. Ali há o emprego que tanto procuras. E nunca mais diga que Deus se esqueceu de ti.
A princípio refugou pensando: “este senhor deve estar delirando. Ora, andei em todos os lugares, percorri todos os cantos e não encontrei nada. E todos os dias vou a essa igreja, como poderia haver ali um emprego?”. Todavia o homem insistiu:
— Vá, ande, vá!
Resolveu então encaminhar-se até o templo. Dentro, ajoelhou-se como sempre fazia diante do altar. Em prantos pedia: Senhor, não te esqueças de mim! Senhor, não te esqueças!
Sobre seu ombro uma mão repousou. Voltou o olhar, era o sacerdote.
- Oi, filho. Escute, você está desempregado? Pois, tenho um emprego para você.
E encaminhou Rodrigo a uma empresa — não muito longe dali.
Entrando, a secretária lhe perguntou:
- Sim, o que o senhor deseja?
- Estou procurando emprego.
Aguarde um momento.
Minutos depois, estava admitido.
No dia 20 dezembro ali estava ele, agora com a família — convidado fora a participar com esta para festa dos funcionários e parentes, visto o administrador ter gostado muito da espontaneidade e a forma educada do rapaz.
Ao dispensar os funcionários para o feriado de Natal deu-lhe um adiantamento, de modo que, Rodrigo pode presentear suas crianças em tão iluminada festa.
Espero que o conto que retratei sirva de reflexão aos meus caros leitores, por quantas vezes estamos desesperados achando que tudo dá errado em nossa vida? Por quantas vezes pensamos “Deus nos esqueceu”?
Para Rodrigo, aquele pode não ter sido o Natal mais farto, nem sob sua árvore tiveram os presentes mais caros. Mas claramente, foi o Natal no qual ele ganhou o maior presente.
E até hoje ele se pergunta: onde estará aquele velhinho de barba branca, que mesmos os que naquela data estavam na praça, jamais haviam visto novamente?
Espero caro leitor que ele esteja bem próximo a você, para lhe desejar assim como eu: um feliz Natal!

Do livro: Os Mais Belos Contos de Natal Ed. 2010 - Ed. CBJE/BR Letras

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