quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Amor e Fatalidade


Péricles era um rapaz tímido, porém, caprichoso e eficiente nas tarefas outorgadas por seus superiores, a bordo de um navio de bandeira Panamenha, onde desempenhava a função de segundo maquinista. Navio este que, normalmente fazia a rota Rio de Janeiro-Nova York.
Independente do local aonde vinha atracar, Péricles saia sozinho, já que, não freqüentava noitadas de orgias. Tinha por preferência sim, ir ao cinema, passear em shoppings ou ler um bom livro.
Com o decorrer dos anos, conheceu uma jovem de vinte e um anos - nascida na mesma cidade litorânea do interior de Santa Catarina, do qual originário era -, que estudava durante a noite - curso superior - e, trabalhava durante o dia no cartório da família como escrituraria. Jovem esta, que atendia pelo sonoro nome de Fátima.
Decidido a contrair futuros laços matrimonias, Péricles dedicou-se assiduamente a construir sua futura morada nas proximidades do mar. Lar este que, pronto, destacava-se tamanha beleza, tendo em frente um lindo jardim com diversas flores aos quais desabrochavam em diferentes estações, para que, sua amada sempre pudesse apreciar a beleza de tais, indiferente a época do ano.
Logo depois de concluída, pediu a mão da moça em casamento. Namorados eram, havia dois anos.
Pedido este, aceito com grande alegria pelo senhor Jacinto, pai da noiva. Uma vez que, qualquer sogro teria a honra de ter um genro com tais qualidades - e com a origem nobre que o rapaz trazia em seu sangue.
Seis meses depois, marcaram a data para o mês de maio - mês das noivas -, do qual, lembro-me bem, a alta sociedade do pequeno município convidada fora em peso, uma vez que, este havia de ser o acontecimento social do ano. Estações de rádio, televisão local e jornais, noticiaram o fato com alegria. O salão de festas mais tradicional da cidade abrira suas portas para receber as respectivas famílias que tanto deram de alegria a todos ao longo dos anos.
Contrataram orquestra, mestre de cerimônia, tapete vermelho para os noivos e testemunhas passarem.
Todas as mesas cobertas eram com toalhas brancas em detalhes dourados, e sobre estas, castiçais e velas.
Tão logo adentraram o salão, os noivos recebidos foram com uma valsa pela orquestra. E, flutuaram diante de todos. Sem dúvidas, era um belo casal.
Posteriormente brindaram com Dom Pérignon - famosa champagne francesa, quebrando a seguir as taças.
Naquela noite, ao qual relato ao leitor, guardo comigo a queda grande que ocorreu de temperatura - algo incomum realmente -, de modo que, todos os convidados estavam mais que impecáveis vestindo, no caso, os homens belíssimos smokings e as mulheres portando seus belos casacos de vison. Para época, um verdadeiro luxo.
Passados dois meses do enlace matrimonial, veio a notícia fatídica: Péricles descobrira ser soro positivo.
Naqueles dias - início dos anos oitenta -, a doença ainda era uma novidade no meio médico. Para se ter uma idéia, havia ainda discordância quanto ao meio de contágio. Os pacientes não tinham medicamentos específicos para lhes garantir uma sobrevida com qualidade. Obviamente, a notícia era uma sentença de morte, algo difícil de aceitar.
Na mesma noite, confessou a esposa que numa de suas idas a um shopping center, isto em Nova York, conhecera uma jovem. Durante muito tempo conversaram, até que, a moça convido-o a conhecer seu apartamento. Chegando lá, tiveram um contato íntimo e, nunca a mais viu. Acreditava ter sido contaminado por ela.
Jurou também que, desconhecia ser portador de tal doença, e que, jamais iria machucar o ser que tanto amava.
Fátima, infelizmente contraiu o vírus.
Oito meses após o casamento, Péricles veio a falecer. Fátima, em estado debilitado, partiu em conseqüência de uma infecção pulmonar quatro meses após perder seu cônjuge.
Com o fato acima narrado, espero que os leitores do mesmo, procurem se precaver.
Felizmente hoje, existem tratamentos que condições dão ao portador uma sobrevida mais digna. Todavia, é fato real que ainda, não possuímos uma cura desta. Portanto, lembre-se: sexo é bom, mas, com segurança.

Autoria: José Wilmar Pereira - Editora: CBJE/BR Letras


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