segunda-feira, 10 de agosto de 2009

El Grand Circo Royalle (Ri, palhaço!)

Nascera no camarim do circo Royalle - quanto ao ano, em verdade não o sei. O que sei, é que Pimpolho tornou-se um palhaço. E que palhaço! Comunicativo, além de bom ouvinte, tanto no palco quanto fora deste, fosse à cidade que fosse necessário era apenas erguer a lona que logo sabiam: eis ali uma das atrações mais interessantes. Além de profissional do riso, acumulava função de relações públicas. Obviamente, desempenhava com sucesso esta também.

Consistiam em oito as atrações de El Grand Circo Royalle, sendo a principal o número de trapézio, com Sheila - a Mulher Voadora -, esposa do alegre Pimpolho. Como o esposo, nascera sob a lona, visto seus pais serem também circenses.

Recordo da manhã quando o circo chegou nesta pequena cidade do interior do estado de Minas Gerais. Um fusca, do qual o tempo parecia não ter piedade com sua lataria e rodas, tendo sobre o capô uma caixa de som, anunciava para baixo e para cima durante todo aquele dia a estréia do circo, destacando o show da mulher voadora.

Os ingressos começaram a serem vendidos às dezessete horas. Quarenta e cinco minutos depois, esgotados já estavam.

Aos poucos a noite caiu - no verão, as noites tardam. Mas, naquele dia, parece que até a noite queria comparecer ao espetáculo, que conforme anunciado, começou as vinte horas e trinta minutos. No picadeiro, o malabarista abriu o show. Posteriormente vieram o atirador de facas, o mágico, outras atrações. Todos intercalados pela apresentação sempre alegre e animada do palhaço Pimpolho.

Tudo transcorria conforme os ensaios. Um verdadeiro espetáculo. Um verdadeiro sucesso.
De repente, rufam os tambores. O penúltimo número daquela noite, ninguém mais ninguém menos que "a mulher voadora". O show de trapézio estava começando. Luzes sobre a bela moça que entrou coberta com uma capa. Um movimento, esta é atirada para longe. Vê-se então, que ela esta coberta por um maiô com brilhos.

Assovios, aplausos, todos em êxtase. Ela sobe no trapézio. Silêncio absoluto. Saltava de um trapézio para o outro com uma perfeição milimétrica. Já no final da apresentação, deu o famoso salto triplo mortal. Mas o companheiro que deveria pegá-la pelas mãos, não conseguiu.

Olhos arregalados, respiração contida. Sheila caiu fora da rede de proteção - nove metros. Seu belo corpo agora estatelado no chão estava.
- Oooooooooh! - fizeram em seguida à platéia, que outrora em pé aplaudia.

Sheila continuou caída e imóvel. O apresentador corre em direção do palhaço e gritou:
- Entra! Entra! Anima o público!

Pimpolho permanecia estático, entorpecido pela grotesca cena. O apresentador o empurra:
- Vamos, anda logo! Anima o público.

Empurrado, acaba por força maior adentrado o picadeiro. Olhos voltados sobre sua imagem, esquecendo assim a pobre jovem.
O público em coro grita:
- Ri palhaço! Ri palhaço!
E o palhaço: nada.
A maquiagem aos poucos foi borrando, resultado das lágrimas contínuas a escorrerem sobre seu rosto.
De repente, uma criança de não mais de três anos de idade entra correndo e grita:
- Ri palhaço! Ri palhaço!
E o público:
- Ri palhaço! Ri palhaço!
E a criança:
- Ri, ri, ri... papai!
Era Ericsson, filho do casal.
Levado pela força recebida do filho e tirando do fundo da alma as últimas forças, ele dá uma sonora gargalhada... de tristeza. O público fica perplexo. E assim, as cortinas se fecham.

Pimpolho nunca mais conseguiu trabalhar de palhaço, pois, perdeu muito da sua alegria. E alegria é que faz o palhaço. Hoje, ele se transformou em um grande mágico do circo Royalle.
Sheila ficou paraplégica. Vive em cadeira de rodas. Mas não deixou o circo. Atende o público na bilheteria. Seu filho, Ericsson, se tornou um grande trapezista, continuando uma tradição da família. Hoje, é o famoso "trapezista voador".

Assim como na vida, no nosso dia a dia, os nômades circenses têm por obrigação de continuar, pois o espetáculo não pode parar.

Autor: José Wilmar Pereira - Editora: CBJE/BR Letras

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